Tá tudo Rico!
No meu bairro está tudo rico!
Desde quinta-feira vai uma enorme euforia no meu bairro. Foi logo a seguir ao ministro das Finanças ter dito a Judite de Sousa, na RTP-1, que são os 30% mais ricos deste país que investem em PPR, PPR-E, PPA e CPH. É que, a ser assim, 90% desses 30% vivem no meu bairro. E o certo é que o foguetório não tem parado, já se organizaram várias festas de ricos e já houve muita gente do meu bairro que não trabalhou sexta e sábado (os ricos, como se sabe, têm a mania de não trabalhar aos sábados).
O sr. Joaquim da mercearia convenceu a mãe, há dez anos, a fazer um PPR, tendo em conta que a Segurança Social pública não anda lá muito católica e seria bom prevenir o futuro da senhora. Desde quinta, o sr. Joaquim fechou a mercearia e só espera pela herança que a mãe, que não anda bem de saúde, lhe vai deixar. E ele que não sabia que era filho de uma das pessoas mais ricas de Portugal!
O sr. João da padaria convenceu-se, há três anos, que era bom fazer um PPR-E, porque o filho ia bem no liceu e depois quereria certamente não só concluir um curso universitário, como também tirar talvez um MBA.
Nessa altura, o PPR-E daria jeito. Agora está com um problema em casa.
O miúdo ouviu o Bagão Félix, dizer que o pai está entre os 30% mais ricos de Portugal e agora já não quer estudar. Diz que não precisa. Chatices de ricos...
A sra. Ana, ajudante na farmácia, resolveu começar a colocar uns trocos numa Conta Poupança Habitação, visando a compra de uma casinha quando chegar aos 30, ela que têm agora 24. Desde quinta que não aparece no emprego e mandou dizer que não consta que os ricos trabalhem. Acha estranho que a conta bancária continue próxima do zero no final do mês. Mas se o dr. Bagão disse que ela é rica, é porque é verdade.
Quanto ao José, empregado de uma agência imobiliária, que passa o dia a mostrar casas a clientes, resolveu há uns anitos arriscar uns dinheiros num Plano Poupança Acções. Ouviu o dr. Catroga dizer que era uma forma de reanimar o mercado de capitais, que daria uma boa rentabilidade os investidores. Agora que soube que está rico, já escreveu ao dr. Catroga a agradecer a indicação.
E assim a festança não pára no meu bairro. Mas ando preocupado. Soube que o eng. Belmiro se estava a preparar para fazer um PPR e poupar no seu IRS e agora já não o vai poder fazer. O eng. Jardim Gonçalves, que tem muitos filhos e netos, ia apostar nos PPR-E. Também já não vai a tempo. O dr. Artur Santos Silva, que é muito forreta, estava a pensar fazer um CPH no banco de que é presidente - só para poupar 127 euros no IRS! Não pode, porque o dr. Bagão lhe topou os intentos. E finalmente o eng. Mira Amaral ia colocar a sua choruda reforma em PPA. Vai ter de gastá-la noutro sítio.
E eis como finalmente temos um ministro que acaba com os ricos para dar aos pobres. Bem haja, dr. Bagão! E assim já não precisa de investir no combate à fraude e à evasão fiscal, nem investigar a sério o rendimento das profissões liberais, nem combater 50% das empresas que declaram prejuízos, nem estabelecer uma colecta mínima para restaurantes, mercearias e outros pequenos negócios para os quais, como é óbvio, não há qualquer possibilidade de controlo fiscal.
Carregue nesses 30% de ricos que investem em PPR, PPR-E, PPA, CPH - e vai ver como resolve o défice e a justiça fiscal desce sobre este país!
Força! Que não lhe doam as mãos!
Desde quinta-feira vai uma enorme euforia no meu bairro. Foi logo a seguir ao ministro das Finanças ter dito a Judite de Sousa, na RTP-1, que são os 30% mais ricos deste país que investem em PPR, PPR-E, PPA e CPH. É que, a ser assim, 90% desses 30% vivem no meu bairro. E o certo é que o foguetório não tem parado, já se organizaram várias festas de ricos e já houve muita gente do meu bairro que não trabalhou sexta e sábado (os ricos, como se sabe, têm a mania de não trabalhar aos sábados).
O sr. Joaquim da mercearia convenceu a mãe, há dez anos, a fazer um PPR, tendo em conta que a Segurança Social pública não anda lá muito católica e seria bom prevenir o futuro da senhora. Desde quinta, o sr. Joaquim fechou a mercearia e só espera pela herança que a mãe, que não anda bem de saúde, lhe vai deixar. E ele que não sabia que era filho de uma das pessoas mais ricas de Portugal!
O sr. João da padaria convenceu-se, há três anos, que era bom fazer um PPR-E, porque o filho ia bem no liceu e depois quereria certamente não só concluir um curso universitário, como também tirar talvez um MBA.
Nessa altura, o PPR-E daria jeito. Agora está com um problema em casa.
O miúdo ouviu o Bagão Félix, dizer que o pai está entre os 30% mais ricos de Portugal e agora já não quer estudar. Diz que não precisa. Chatices de ricos...
A sra. Ana, ajudante na farmácia, resolveu começar a colocar uns trocos numa Conta Poupança Habitação, visando a compra de uma casinha quando chegar aos 30, ela que têm agora 24. Desde quinta que não aparece no emprego e mandou dizer que não consta que os ricos trabalhem. Acha estranho que a conta bancária continue próxima do zero no final do mês. Mas se o dr. Bagão disse que ela é rica, é porque é verdade.
Quanto ao José, empregado de uma agência imobiliária, que passa o dia a mostrar casas a clientes, resolveu há uns anitos arriscar uns dinheiros num Plano Poupança Acções. Ouviu o dr. Catroga dizer que era uma forma de reanimar o mercado de capitais, que daria uma boa rentabilidade os investidores. Agora que soube que está rico, já escreveu ao dr. Catroga a agradecer a indicação.
E assim a festança não pára no meu bairro. Mas ando preocupado. Soube que o eng. Belmiro se estava a preparar para fazer um PPR e poupar no seu IRS e agora já não o vai poder fazer. O eng. Jardim Gonçalves, que tem muitos filhos e netos, ia apostar nos PPR-E. Também já não vai a tempo. O dr. Artur Santos Silva, que é muito forreta, estava a pensar fazer um CPH no banco de que é presidente - só para poupar 127 euros no IRS! Não pode, porque o dr. Bagão lhe topou os intentos. E finalmente o eng. Mira Amaral ia colocar a sua choruda reforma em PPA. Vai ter de gastá-la noutro sítio.
E eis como finalmente temos um ministro que acaba com os ricos para dar aos pobres. Bem haja, dr. Bagão! E assim já não precisa de investir no combate à fraude e à evasão fiscal, nem investigar a sério o rendimento das profissões liberais, nem combater 50% das empresas que declaram prejuízos, nem estabelecer uma colecta mínima para restaurantes, mercearias e outros pequenos negócios para os quais, como é óbvio, não há qualquer possibilidade de controlo fiscal.
Carregue nesses 30% de ricos que investem em PPR, PPR-E, PPA, CPH - e vai ver como resolve o défice e a justiça fiscal desce sobre este país!
Força! Que não lhe doam as mãos!